Atótis

Atótis
Hórus Aha, Aha, Hor-Aha
Fragmento de vaso de faiança inscrito com o nome de Hórus Aha, em exposição no Museu Britânico
Fragmento de vaso de faiança inscrito com o nome de Hórus Aha, em exposição no Museu Britânico
Faraó do Egito
Predecessor Narmer/Menés
Sucessor Quenquenés
Esposa(s) Rainhas Beneribe e Quentape[1]
Filhos Quenquenés[2]
Mãe provavelmente Neitotepe
Tumba Tumba B10/B15/B19, Umel Caabe, Abidos[3]
Monumentos Templo de Neite e Saís[4]

Atótis (Hórus Aha, Hor-Aha ou Aha) foi um faraó do início da Primeira dinastia do Antigo Egito. Embora haja pouca dúvida de que tenha sido filho e sucessor de Narmer, podendo assim ser considerado o segundo faraó da Primeira dinastia, a possível identificação com Menés, a quem posteriormente se atribui a identidade de primeiro faraó do Egito, o colocaria na posição de primeiro faraó da Primeira dinastia. Ele reinou por volta de 3 080 a.C.[5]

Biografia

Nome e identidade

Hórus Aha ou Hor-Aha é a leitura de seu nome de Hórus, forma mais antiga de nomear o faraó, que o associa ao deus Hórus. Essa nomeação é composta de um painel retangular, chamado sereque, que simboliza o palácio real, encimado pelo falcão, que representa o deus Hórus. Em seu interior são dispostos os hieróglifos que compõem foneticamente o nome do faraó. Hórus Aha seria a leitura completa do nome, com o sereque encimado pelo falcão.

Os registros arqueológicos da Época Tinita referem-se aos faraós por seus nomes de Hórus, enquanto registros posteriores, como as listas reais de Turim e Abidos, usam uma titulatura real alternativa, o nome de nebty.[6][7] Os diferentes elementos titulares do nome do faraó foram muitas vezes usados isoladamente, para abreviação, embora a escolha tenha variado de acordo com a circunstância ou o período.[7]

O nome Atótis provém da obra de Mâneto, da qual algumas citações são encontradas em autores posteriores. Jorge Sincelo, um eclesiástico bizantino que viveu entre o final do século VIII e início do ÌX, em sua obra Eklogué Cronografias, compara duas cronologias do Egito: o Fr. 6 corresponde à cronologia fornecida por Sexto Júlio Africano (século II-III d.C.) e o Fr. 7 corresponde à cronologia de Eusébio de Cesareia (século III-IV d.C.). Ambos teriam se baseado na obra de Mâneto.[8]

Os Fr. 6, 7(a) e 7(b) colocam Atótis como filho e sucessor de Menés, que teria sido o primeiro faraó, segundo os mesmos fragmentos. De acordo com o Fr. 6, citado de Africano por Sincelo, Atótis teria governado por 57 anos, construído um palácio em Mênfis e escrito extensas obras de anatomia, pois era médico.[9] O Fr. 7(a), citado de Eusébio de Cesareia, reduz o tempo de seu reinado para 27 anos, mas também atribui a Atótis a construção do palácio em Mênfis e a prática de medicina, tendo escrito livros de anatomia.[10] O Fr. 7(b), que provém da versão em armênio da obra de Eusébio, apresenta as mesmas informações que o Fr. 7(a) com pequenas alterações: mantém os 27 anos para seu reinado, menciona que ele construiu para si um palácio real em Mênfis e que ele também praticava a arte da medicina, tendo escrito livros sobre o método da anatomia.[11]

O consenso geral dos egiptólogos seguiu os achados de Petrie em conciliar os registros e conectá-los: Hórus Aha (arqueológico) com o nome nebty Ity (histórico).[6][7][12]

O mesmo processo levou a identificação de Menés (um nome nebty) com Narmer (um nome de Hórus), evidenciado nos registros arqueológicos (ambas figuras que foram creditadas com a unificação do Egito e como o primeiro faraó da I dinastia) como o predecessor de Hórus Aha (o segundo faraó).[6][7][12]

Reinado

Tumba atribuída a Neithhotep, que teria sido construída por Hor-Aha, descoberta por Jaques de Morgan no final do século XIX.

Em torno do século XXXI a.C., seu pai, Narmer, uniu o Baixo e Alto Egito. Atótis tornou-se faraó aos trinta anos e governou até seus sessenta e dois anos. Durante seu reinado empreendeu campanhas contra núbios e líbios, manteve relações comerciais com o corredor Sírio-Palestino, fornecedor de madeira de cedro e ordenou a edificação de um templo à Neite em Saís.[4]

Em 1897, Jaques de Morgan, ao escavar nos arredores da vila de Nacada, revelou uma tumba de grandes dimensões (54 x 27 m), contendo uma série de itens de toalete, recipientes de pedra e vedações de argila com os nomes de Narmer, Hor-Aha e de Neithhotep.[13] Por ter sofrido erosão após a escavação, a tumba desapareceu pouco tempo depois do trabalho de re-escavação de John Garstang em 1904. Embora tenha sido primeiramente identificada como a tumba de Menés, sendo a primeira grande estrutura da Primeira Dinastia a ser escavada no Egito,[14] atualmente se acredita que tenha sido a tumba de Neithhotep, possivelmente a esposa de Narmer e mãe de Hor-Aha. A presença na tumba de vários rótulos e selos de Hor-Aha pode indicar que ele tenha supervisionado o funeral de Neithhotep, que teria sobrevivido à morte do marido, Narmer. O tamanho excepcional da tumba já foi considerada evidência de que Neithhotep teria reinado em nome de seu filho Hor-Aha até que ele assumisse a posição de faraó.

A lenda dizia que ele foi transportado no Nilo por um hipopótamo, a encarnação da divindade Seti. Desde que Atótis foi creditado como o legendário Menés, outra história conta que Atótis foi morto por um hipopótamo enquanto caçava.

Tumba

As câmeras B10, B15 e B19 compõem o túmulo de Hor-Aha. B17 foi identificada como a tumba de Narmer, seu antecessor e possivelmente seu pai. B14 pode ter sido a tumba de sua esposa Beneribe.

A tumba de Hor-Aha encontra-se em Umel Caabe, no Cemitério B da necrópole de Abidos, no Alto Egito, tendo sido construída ao lado da tumba que se acredita ser de Narmer. Sua tumba é significativamente maior do que a de Narmer, consistindo de 3 grandes câmaras alinhadas, atualmente numeradas como B10, B15 e B19. As câmaras são revestidas por paredes com espessura que varia entre 1.5m e 2.1m. Embora não haja conexão entre as câmaras, é possível que elas tenham compartilhado uma estrutura que as cobrisse.

A câmara B14, adjacente à sua tumba, pode ter sido de sua esposa, Benerib, pois foram encontradas nela inscrições de seu nome ao lado do nome Hórus-Aha.[15][16][17]

Enquanto as tumbas de seus predecessores Iri-Hor, Ka e Narmer consistem de duas câmaras cada uma, o complexo tumular de Hor-Aha é composto por uma série de câmaras, com 33 sepultamentos subsidiários, contendo os restos mortais de jovens rapazes entre 20 e 25 anos, provavelmente mortos quando o faraó foi sepultado.[18] É o primeiro complexo tumular a apresentar tal característica.

Teorias

Há algumas controvérsias sobre Atótis. Alguns[19] acreditam que ele um individual como legendário faraó Menés e que ele foi o fundador do Egito Antigo. Outros afirmam que ele foi o filho de Narmer, o faraó que unificou o Egito. Independentemente, consideráveis riquezas históricas identificam Narmer como o unificador do Egito e Atótis como seu filho e sucessor.

Rótulo com o nome de Hor-Aha e uma segunda palavra, interpretada como Bernerib. Museu Britânico.

Esposas

Benerib, cujo nome aparece escrito ao lado do nome de Hor-Aha em inscrições provenientes da câmara B14, adjacente à tumba de Hor-Aha,[20] foi possivelmente a principal esposa de Hor-Aha. Ele teve também outra esposa, Quentape, com quem ele tornou-se pai de Quenquenés. Ela é mencionada como a mãe de Quenquenés nos Anais da Pedra do Cairo.[2]

Galeria

  • Vaso cilíndrico do Rei Atótis de Sacará, I Dinastia; Museu Kestner
    Vaso cilíndrico do Rei Atótis de Sacará, I Dinastia; Museu Kestner

Referências

  1. Queens of Egypt, informations based on the book The Complete Royal Families of Ancient Egypt
  2. a b Dodson & Hilton, p.48
  3. Hórus Aha
  4. a b Coleção grande civilizações: Egito 1 ed. Rio de Janeiro: Minuano Cultural. 2010. 10 páginas 
  5. Morris L. Bierbrier (2008). Historical Dictionary of Ancient Egypt. Scarecrow Press. p. 6. ISBN 978-0-8108-6250-0.
  6. a b c Edwards 1971: 13
  7. a b c d Lloyd 1994: 7
  8. Manetho (1940). Manetho. W. G. Waddell. Cambridge, Mass.,: Harvard University Press. OCLC 690604
  9. Manetho (1940). Manetho. W. G. Waddell. Cambridge, Mass.,: Harvard University Press. p. 26-29. OCLC 690604
  10. Manetho (1940). Manetho. W. G. Waddell. Cambridge, Mass.,: Harvard University Press. p. 30-31. OCLC 690604
  11. Manetho (1940). Manetho. W. G. Waddell. Cambridge, Mass.,: Harvard University Press. p. 32-33. OCLC 690604
  12. a b Cervelló-Autuori 2003: 174
  13. Tyldesley, J. (2006). Chronicle of the Queens of Egypt. Thames & Hudson. p. 28.
  14. Wilkinson, Toby (1999). Early Dynastic Egypt: Strategy, Society and Security. London: Routledge. p. 5. ISBN 0-415-18633-1
  15. Aidan Dodson & Dyan Hilton (2004).The Complete Royal Families of Ancient Egypt. Thames & Hudson. p. 46
  16. Toby A. H. Wilkinson, Early Dynastic Egypt, Routledge, Londres/Nova Iorque 1999, ISBN 0-415-18633-1, 70-71
  17. Dodson & Hilton, p.46
  18. Shaw, Ian (2004). Ancient Egypt: a very short introduction. Oxford University Press. p. 114
  19. Stephan Seidlmayer, The Rise of the State to the Second Dynasty, quoted in Egypt: The World of the Pharaohs, 2004 (translated from German, 2010), ISBN 978-3-8331-6000-4
  20. Aidan Dodson & Dyan Hilton, The Complete Royal Families of Ancient Egypt, Thames & Hudson (2004), p.46

Bibliografia

  • Cervelló-Autuori, Josep (2003), «Narmer, Menes and the seals from Abydos», Egyptology at the dawn of the twenty-first century: proceedings of the Eighth International Congress of Egyptologists, Cairo, 2000, 2, Cairo: The American University in Cairo Press .
  • Edwards, I. E. S. (1971), «The early dynastic period in Egypt», The Cambridge Ancient History, 1, Cambridge: Cambridge University Press .
  • Lloyd, Alan B. Herodotus: Book II. 1975 1994. Leiden: E. J. Brill. ISBN 9004041796 
  • Manetho (1940). Manetho. W. G. Waddell. Cambridge, Mass.,: Harvard University Press. OCLC 690604

Ver também

Ligações externas

  • Corpus of Wooden and Ivory Labels - Aha by Francesco Raffaele

Precedido por
Menés
Dinastia I Faraó
Atótis
Sucedido por
Neitotepe
  • v
  • d
  • e
Faraós (masculino • feminino ♀) • incerto/regente
Protodinastia até 1.º Período Intermediário (c.–3150 a.C.2040)
Protodinastia
(3500–3150 a.C.)
Baixo Egito
Alto Egito
Época Tinita
(3150–2686 a.C.)
I dinastia
II dinastia
Império Antigo
(2686–2181 a.C.)
III dinastia
IV dinastia
V dinastia
VI dinastia
1.º Período Intermediário
(2181–2040 a.C.)
VII/VIII dinastias
IX dinastia
X dinastia
Império Médio
(2040–1802 a.C.)
XI dinastia
Núbia
  • Seguerseni
  • Cacaré Ini
  • Iibequentré
XII dinastia
2.º Período Intermediário
(1802–1550 a.C.)
XIII dinastia
XIV dinastia
  • Iaquebim
  • Iaamu
  • Caré
  • Amu
  • Xexi
  • Neesi
  • Catiré
  • Nebfauré
  • Seebré
  • Merjefaré
  • Seaudicaré III
  • Nebedejefaré
  • Uebenré
  • Sequedejefaré
  • Jedecuebenré
  • Autibré
  • Heribré
  • Nebsenré
  • Sequeperenré
  • Jequeruré
  • Seanquibré
  • Canefertemeré
  • Sequenré
  • Caquemuré
  • Neferibré
  • Caré
  • Ancaré
  • Semenré
  • Jedecaré
  • Hepu
  • Anati
  • Bebeném
  • Apepi
XV dinastia
XVI dinastia
  • Senebecai
  • Anater
  • Useranate
  • Senquém
  • Uasa
  • Zaquete
  • Car
  • Pepi III
  • Bebanque
  • Nebemaré
  • Nicaré II
  • Aotepré
  • Aneteriré
  • Nubanqueré
  • Nubuserré
  • Causerré
  • Iacube-Baal
  • Iaquebam
  • Ioam
  • Amu
XVII dinastia
  • Intefe V
  • Raotepe
  • Sebequensafe I
  • Mentuotepe VII
  • Nebirau I
  • Nebirau II
  • Semenenra
  • Sebequensafe II
  • Intefe VI
  • Intefe VII
  • Tao I
  • Tao II
  • Camés
Império Novo
(1550–1070 a.C.)
XVIII dinastia
XIX dinastia
XX dinastia
XXI dinastia
XXII dinastia
XXIII dinastia
XXIV dinastia
XXV dinastia
Época Baixa até Período Ptolemaico (664–30 a.C.)
Época Baixa
(664–332 a.C.)
XXVI dinastia
XXVII dinastia (persas)
XXVIII dinastia
XXIX dinastia
XXX dinastia
XXXI dinastia (persas)
Época greco-romana
(332–30 a.C.)
Dinastia macedônica
Dinastia ptolemaica
Na dinastia ptolemaica, as mulheres dos faraós governavam junto com seus maridos.
Controle de autoridade